terça-feira, fevereiro 28, 2006

Dúvidas sobre nossas certezas...

Ter a sensação de que sempre esteve sozinha e foi independente é completamente diferente de estar sozinha e precisar ser independente.

Ninguém para ajudar a dividir as contas, para escolher o jantar, pra rir ou comentar as idiotices diárias da TV.

Quem comprará o botijão de gás? Quem vai colocar? Quem fará o mercado para encher a geladeira que está completamente vazia?

Seres humanos deveriam ser dotados das capacidades de "pensar e materializar". Mais uma vez, fugir não adianta!

Toma-se um grande susto quando se percebe que tudo que sempre acreditou ser, talvez nunca tenha sido de verdade.

"Ser ou não ser, eis a questão". Por ter virado comum, às vezes, perde-se a noção do quão forte é este questionamento de Shakespeare. Pobre Macbeth, agora é possível saber o drama pelo qual sua alma passa no livro.

Duvidar do que se é. Não há nada mais desesperador do que se levantar dúvidas sobre suas certezas até então incontestáveis!

Freud explica: o dilema do filho que luta pela independência dos pais, ao mesmo tempo em que depende indubitavelmente destes por um longo período. Há uma grande diferença entre o discurso e o que se de fato. A enorme distância entre o ser e o querer. É preciso enfrentar a crise para descobrir o que se é de fato.

Ladies e gentlemen, welcome to reality

Buenos Aires, quatro dias de muitas andanças, muito conhecimento e algumas cositas a mais que ficarão para outro momento.

Hoje, a impressão que se tem é que a distância só aumentou o campo de visão de todas as dúvidas, angústias e incertezas. O que era visto em detalhe foi ampliado, o que se vê agora não é nada bonito e confortável.

Às 8h30 da manhã o avião já sobrevoava a cidade de Santos. O que fazer quando chegar em casa? O que fazer com aquele tão conhecido frio na barriga que já se alastrava por toda a espinha e indicava que a tal "psiquê" começaria o processo de colocar o dedo nas feridas.

Pensamentos mais densos precisam ser libertados. Quatro dias de pura sublimação e repressão a tudo que fosse atrair sentimentos tristes, depressivos, ruins foram mantidos afastados e a proximidade da casa deu a eles a força necessária para se soltarem dentro e correrem desesperadamente dentro da cabeça.

Por que conseguir paz é um processo tão difícil? No momento, não é preciso um grande amor, não preciso decepções, frustrações ou felicidade em demasia. Apenas alguns minutos de completa paz para se ganhar o dia, a serenidade e a tranquilidade necessárias para enfrentar a tempestade que há muito já paira neste céu nenhum pouco estrelado.

"Senhores passageiros, já sobrevoamos a cidade de São Paulo, o tempo é bom, 28 ºC." Bem-vindos à realidade, não se pode fugir dela!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Quase um engano...

Era 30 de julho de 1999, naquela fria noite de inverno, sem motivo aparente, ele me deixou. Cinco anos de dedicação, de vontades próprias deixadas para trás e uma brilhante carreira de escritora totalmente abandonada. Ele roubou meus sonhos, minha dignidade e agora estava prestes a roubar a minha liberdade.

Aqui estou, dentro do elevador, rumo a minha vingança. Os andares vão passando diante do visor: décimo primeiro, décimo segundo, finalmente, décimo terceiro.

Cabelo ligeiramente revolto, ele odiava isso. Estou suando e tremendo. Estou diante de sua secretária. Ela tenta me deter, mas seu esforço é em vão. Adentro a linda sala do escritório dele, arranco o revólver de dentro da bolsa e miro, certeira, em sua grande cabeça.

Ele está pálido. Tenta obter alguma explicação. Proíbo que ele fale e lhe concedo um último pedido. Neste momento, o seu celular modelo Motorola V120 toca. Ele pede para atender e eu aviso que é a última coisa que fará em vida. Durante a conversa, seus olhos enchem de lágrimas. Ele desliga, olha para mim, e diz que era o médico, avisando que o exame de coração havia sido trocado. Ele não ia mais morrer e nós podíamos voltar a viver juntos. Não havia outra mulher (...) era só a morte, atravessando o nosso caminho.

Obs: com este conto, ganhei meu primeiro celular em uma promoção da Revista TPM

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Do porquê não nasci barata

Não importa muito quem eu seja, importa saber que, como todo mundo, já acertei pra caralho na vida e também já fiz muita merda, nos sentidos figurado e literal - tomo muito iogurte e não sou uma pessoa enfezada!

O que quero dizer é que é extremamente difícil ser humano, pior ainda quando se está sozinho e se tem a oportunidade de analisar tudo que, se pudesse voltar no tempo, faria diferente. Bem, eu acredito que faria tudo de novo, mas de outros jeitos. Terminaria uma coisa para começar outra, sem atropelos, sem magoar quem amo, sem decepcionar quem tinha total confiança na minha integridade. "Eu tinha caráter até conhecer certa pessoa", parafraseando Nick Hornby no livro Alta Fidelidade.

Nestas horas, sozinha, tendo a minha frente todos os meus erros, pego-me a questionar: por que diabos eu não nasci uma barata? Não seria muito mais fácil encarar minha existência, se eu fosse apenas um inseto? Não que eu me considere um, pelo contrário, I'm so good!

O que quero dizer é que ser uma barata deve ser muito fácil. Ela não se preocupa se transmitirá hepatite e outras doenças para quem comer o bolo pelo qual ela passou. Ela não está nem aí para o asco que provoca em determinadas pessoas, só pela sua simples presença nos lugares e, ao contrário do que diz a música, ela não precisa mentir para se sentir melhor que os outros, afirmando que "tem sete saias de filó" quando na verdade não tem nenhuma!

Já eu, enquanto ser humano, superior a vocês porque sou analisada e leio Freud, é verdade, tenho tantas dúvidas, angústias e incertezas que não pensaria duas vezes em virar uma barata, desde que não precisasse pensar em mais nada. Por que pensamos tanto? Por que não somos capazes de dominar e priorizar os pensamentos que são mesmo importantes?

Freud explica: no momento, Freud está em atendimento e só poderá colaborar com este blog amanhã.

Ok, amanhã Freud tentará elucidar esta questão, pois hoje o tempo já foi excedido! Por alguma razão, sinto que estou mais alucinada que o habitual...

Catarse para se purificar de uma aventura qualquer

Eu deveria começar com uma freudiana, mas preciso de uma catarse primeiro! O termo catarse remete-nos a Aristóteles e significa purificação que se atinge por meio de uma dramatização. Bem, eu não vou dramatizar nada porque tenho mais o que fazer, mas vou começar escrevendo sobre algo que preciso tirar de minha mente para conseguir tranqüilidade e seguir enfrente! Isso é para alguém que deveria ter sido importante apenas por um breve momento, mas conseguiu ir além disso. Não escrevi coisas ruins porque a idéia é purificar, então, vamos tentar!


TOP FIVE - GOOD MOMENTS WITH YOU
1) Quando você veio em minha direção e me beijou ao lado da lata de lixo da estação Consolação. A imagem não é das melhores, mas o momento sim e o nome do lugar agora soa bem irônico;

2) Ficar se beijando praticamente um dia inteiro e, entre um beijo e outro, poder conhecer melhor a sua natureza;

3) Despedir-se, despedir-se de novo, e mais uma vez, e mais outra até ter coragem de ir embora definitivamente. Fazer isso é bobo, mas a lembrança que fica é extremamente doce;

4) Ficar deitada ao seu lado no chão sujo do Vale do Anhangabau, desejando em vão, ter te conhecido em um outro momento e encontrar a paz efêmera e reconfortante em seu abraço silencioso;

5) O último beijo é tão importante quanto o primeiro, não somente por ser o último, mas por ser o responsável por fazer com que, insistentemente, revisitemos nosso passado.

Freud explica: O medo de nos entregar à nossa natureza instintiva animal está intimamente relacionado com o medo de perder o controle racional sobre nós mesmos.

Em resumo, racionalizar o amor é pura perda de tempo. Se estiver com alguém que faça isso, nunca vai aproveitar tudo de bom que os instintos de vida - a própria Eros - podem te dar! Viver com medo é estar morto em vida. Você precisa disso? Eu não!